Patrícia Melo: “O presidente demonstrou grande desprezo pela condição social feminina”
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por Patrícia Melo
Lá atrás, Freud explicou direitinho que a faca usada por certos assassinos de mulheres — em casos onde não havia estupro — era um substituto para o pênis. Ou seja, os crimes que eles cometiam eram, sim, crimes sexuais.
Sabemos muito bem que há homens que, em vez da faca, do martelo, do pênis ou do revólver, usam a linguagem, mas a finalidade é a mesma: acabar com a vida de uma mulher. Atacar a reputação de uma mulher é violência sexual, da mesma forma que estupro, tortura, mutilação genital e assédio.
E essa violência sexual, como toda violência sexual, visa destruir o senso de identidade da vítima. E por isso mesmo é uma violação dos direitos humanos.
A excelente jornalista Patrícia Campos Mello sofreu violência sexual por parte do presidente da República e teve seus direitos humanos violados.
O caso é seríssimo.
Ao atacar a jornalista, o presidente demonstrou grande desprezo pela condição social feminina. Atacou a todas nós, mulheres. Ignorou a declaração dos direitos humanos. Desprezou a classe jornalística. E a liberdade de expressão.
Se esse crime do presidente não for investigado, processado e julgado com o rigor e a seriedade que merece, continuaremos a ser eternamente um país onde a cada hora e meia, uma mulher morre assassinada.
Patrícia Melo é uma das mais premiadas e consagradas autoras da literatura brasileira contemporânea. Autora de 11 livros, a maioria deles já publicados também em vários países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França, ela recebeu, aqui no Brasil, o prêmio Jabuti. Sua obra mais recente é o romance Mulheres empilhadas, que aborda a questão do feminicídio e da violência contra a mulher no Brasil.