No dia em que ia se casar, Nicolau Manuel foi levado pela Guarda para um interrogatório e não voltou. Viveu, assim, quase toda a vida na urgência de contar a verdade a Graça dos Penedos, a noiva que mais tarde seria arrebatada pelo alfaiate que lhe fizera o terno do casamento. Porém, sempre que se abria uma possibilidade, uma ameaça o desviava dramaticamente de seu destino – e agora, meio século passado, está velho demais para querer mudar as coisas, gastando os dias assistindo a telenovelas. De tanto ter ouvido ao avô sua história rocambolesca, Valdemar – um rapaz violento e obeso apaixonado pela vizinha anorética – não desistiu, mesmo assim, de fazer justiça por ele. Alternando a narrativa dos sucessivos infortúnios de Nicolau Manuel – que é também a história de Portugal sob a ditadura, Deixem falar as pedras é um romance maduro e fascinante sobre a transmissão das memórias de geração em geração, nunca isenta de cortes e acréscimos que fazem da verdade não o que aconteceu, mas aquilo que recordamos.